Friday, August 13, 2004

Em tempo.

Mergulho
Brusca mudança de vento, no mar os barcos inquietos, como besouros sobre um lençol cinza e sem rugas. Sentado na pedra, eu, atento a tudo, descrevo uma parábola com meu olhar, que começa no canto da praia e se perde por instantes no horizonte sossegado dessa tarde tão silenciosa como os olhos de despedida na beira do cais.Busco buscar um querer mais pleno, uma sala vazia na sinuosa trilha morro acima, quero querer-te teus defeitos de dias chuvosos, teus lábios amargos em dias de casamento de um parente distante; amo-te ver-te sentada e impaciente contando as formigas no chão.Tolero-te entre o pé nos chinelos e a raspa de pudim no pires quebrado à noite na sala cheia de suspiros antes de ir para a cama para mais uma luta entre teu braço e meu pé gelado.Amo-te sem saber que os amanhãs também chegam, não conserto, não cuido, espero que o mar me leve para longe de ti, e assim entendas que era melhor afinal de contas não ter me perdido.Os dias escoam num ralo escuro de poucas palavras quebradas por teus afagos na minha indiferença. Quero querer-te de novo, como a um filho que se perde.O mar fica mais belo à medida que as ondas ficam mais altas. O perigo é lindo na sua indiferença sem reverência nem pudor. Desejo pular, mergulhar, me diluir, juntar-me aos moluscos sem paixão, entregar-me ao furioso ritmo...Este jardim à beira mar, explicito como um cuspe no asfalto do meio-dia, exatas flores, encanto medido de paisagismo e cores bem comportadas. Sinto falta de ervas daninhas.Lembro de ti sentada à janela, imprimindo teu ritmo monossilábico às manhãs. Penso nos teus cotovelos secos apoiados na madeira velha olhando arvores mais velhas e sorrindo diante do meu encanto de adolescente.Mudos apelos, pensar em ti me aniquila de todo desespero. Sentir tua pele sob a minha, meu peso suado e cansado, minhas lutas enfrentando tuas fugas e atingindo lugares do teu corpo onde preferias te refugiar em Domingos de missa. Fomos longe até demais, pensam muitos. Caminhamos de mãos dadas naquele dia de chuva, achávamos as gotas tão inexatas, lembra?Pão, maçãs, cheiros e o pão tão certo. Manteiga e mel, dia e noite, fomos vivendo.Corpos aquecidos em camas de metal, resistente e sem lembranças remotas.Venta vento, me leva embora daqui. Longe, longe, longe, longe onde eu possa encontrar esse fruto, comer esse gomo, ficar só e deixar tudo abandonado.Os barcos verdes, azuis e brancos se batem uns contra os outros, minha vontade de pular se agita por entre meus pelos eriçados pela chuva fina e fria como tua carícia estudada nas reuniões de família. Queria que tivesses me odiado ao menos uma vez, sem pensar nas conseqüências dos teus atos.Amarras soltas, corro, impulsiono meus pés contra o chão irregular e macio e pulo no vazio descrevendo um arco perfeito que acaba aqui.

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