Tuesday, June 28, 2005

Ao meu leitor mais fiel

Pequeno comentário ao meu leitor mais fiel: o texto abaixo é ficção.

Pedaços, restos & cacos

Pensei.
Nesse lento segue e volta dos dias nos quais são sempre duas da tarde, lembrei de uma sala de jantar de casa de vó. Empoeirada, esquecida na sombra.
Os pedaços de carne ainda estão debaixo das unhas. O sol faz seu lento caminho de uma parede à outra.
Não xingo mais os velhos lentos na rua. Cansei.
Lendo as mesmas revistas de novo, penso no papa morto em seu caixão de pinho e em suas memórias impublicáveis.
Dia mixo feito de resto de tarde em que crianças mal educadas viram hiperativas num cruzar de pernas.
Hiperativos... Que bobagem, eu era insuportável mesmo.
Lembro bem de tudo que foi feito, e principalmente do que não foi dito.
Covarde.
Raspo essas mágoas, mas elas estão cravadas na pele feito espinho longo e escuro.
Penso: certo de ser justo demais para tuas falhas.
Eu me preocupo com coisas mais sérias, entende?
Tento: lembrar porquê não te perdôo, nem esqueço.
Esmago: besouros e formigas no chão, se for uma joaninha colorida, tanto melhor...
Me irrito com coisas banais demais, fúteis demais.
Me ausento de minhas idéias como um hóspede indesejável caminha pela casa na madrugada.
Um pé depois do outro.
Não faz barulho que dói.
Queria: poder sair por aí dizendo coisas definitivas às pessoas, magoando os outros sem culpa de nada.
Cansei de ouvir as mesmas palavras entre uma xícara de café, bem cobrado, e outro copo de água gelado e com gás.
Desenho sempre um círculo na areia da praia.
Não sei bem mais como ir adiante.
Tenho medo.
Tento juntar os pedaços aos cacos e colar tudo com restos moles de anos já passados.
Mas no fundo, eu nunca gostei de mosaicos.
Acho brega.
Eu gosto do inteiro.

Sunday, June 26, 2005

Cabe tudo numa sopa de ervilhas

Num Domingo qualquer de um dia qualquer.
Meu fantasma preferido caminha ao largo da porta fechada nessa madrugada com cheiro de grama molhada.
Acabei de chegar de uma sopa de ervilha. Cabe tudo numa sopa de ervilha.
Cabe.
a saudade que eu tenho de ti.
o telefonema de boa noite debaixo da lua fria.
muitas risadas e taças de vinho.
ovo, bacon, linguiça calabresa.
impaciência de esperar pelos outros (odeio).
filme cheio de criança rindo e gritando (adoro).
saudade de Ernie e Carol.
preocupação com Gui.
vontade de chorar ouvindo REM (Find the river)
vontade de sentar nos degraus dessa noite e lembrar de tudo o mais.
Clarice, Ana C., Érico Veríssimo e Virginia passeando ao farol.
Agatha Christie com seus venenos.
vontade de tomar caipirinha de umbu.
frases ditas sem vontade, cigarros apagados em xícaras de café.
uma preguiça descomunal de enfrentar mais uma Segunda nessa charneca que virou a minha cidade nos últimos dias.
um pau duro me lembrando de nós enroscados na cama.
Sim, cabe tudo numa sopa de ervilha.
Coisas até que nem me lembro mais.
e, de sobremesa, sorvete de boa noite até amanhã dorme bem que eu te beijo no meu sonho.

Monday, June 20, 2005

...

Eu sento aqui e ouco músicas, trilhas sonoras inteiras dos dias que estão por vir, dos beijos que ainda estão por vir! Não cesso de pensar em nós dois rindo de coisas tão bobas e caminhando querendo dar as mãos.
Bobagens palavras quaisquer não exprimem o quanto de raio de sol tu colocou na minha vida, quantos gemidos abafados debaixo das cobertas dos tantos hotéis em que dormimos juntos.
Quero quero quero quero quero quero quero quero demais!
Agora eu te entendo me entendo sei de tudo.
Eu te pedi perdão de pé.
Talvez eu nunca consiga dizer como também me doeu o cinza daquela manhã.
Posso te oferecer uma maçã. Ou uma laranja.
Posso trincar um limão com os dentes.
Posso te amar como eu sou
Ser amado como teu olhar doce sobre os tantos postes e fios de luz ao chegar aqui nesse Porto.
Eu disse assim: sim

Love song for a hurt friend

Ali está ele
ferido
sem entender porque certas coisas são: não
ele poderia erguer o mundo nos braços
preferiu beijá-lo suavemente nos lábios
ele masca a vida com vontade
engole todos os gomos de uma vez só
caminha incólume sobre cacos de vidro
e geme diante de uma pétala de noite caída no chão
ele tempera os dias com aço e mel
arregala os olhos dos medrosos
ele olha para o teto à noite
ele poderia facilmente te amar
pois para seres como ele
o amor não é paradoxo de mil esquinas
seu dia possui mais luz do que sombras
ele goza, pulsa, cala, fala mais do que pode às vezes
mas seu silêncio vai te deixar surdo
prefira o riso à parede fria
não
não há nada mais além desse muro
tu nunca mais vai encontrar outro ser
que possa ser tão ferido

SECRETA