Wednesday, October 27, 2004

Das supresas que um dia guarda

O dia hoje prometia muitas atividades cansativas e repetição de velhas ladainhas.
Amanheceu frio, sabe?
Eu decidi vestir uma camiseta e achei que o calor viria ao meu encontro, e estava enganado...
Eu saí de casa cedo e ventava...
Fiquei sentado no sol aquecendo meus braços antes da aula das 8 e 30.
Sentados os alunos adormecidos.
Ponto de gramática lento e sinuoso no quadro branco, café na mesa ao lado.
Café preto com açúcar. Doce, o café.
Manhã lenta lá fora, cheiros de Outubro, e eu aqui na sala, pensei eu.
Almoço, pizza e conversa jogada fora. Calabresa e alecrim, gosto de tarde na serra.
Mais saudades, mais vontade de sentar no banco de praça.E ficar olhando o mundo girar à minha volta.
Passa rápido tarde quieta, vem logo lua e noite.
Eu sou um ser noturno, gosto de sol, mas amo a lua.Sempre amei.
Sentados os alunos, um deles me mostra seu álbum de fotos.Nele, a surpresa mais linda do dia, uma foto do meu animal favorito: o tamanduá, ou anteater.
Nunca imaginei que alguém além de mim tirava fotos de tamanduás.
Ela percebe com o canto do olho o meu encanto.
Sabe menino que achou um amigo para brincar no meio de uma tarde de sono na praia?
Sou eu vendo a foto desse animal maravilhoso, incrivelmente tímido e solitário.
Me perco contemplando suas orelhas absurdamente pequenas em comparação ao comprido focinho que guarda aquela língua viscosa e poderosa inimiga dos insetos.
Ao fim dessa aula, ela me estende a foto e diz:
- Toma teacher, pra ti.
Ela entendeu que achou mais um do seu clube, dessas pessoas estranhas que amam coisas estranhas e maravilhosas.
By the way, a foto dele, todo lindo está num porta retrato, no mesmo quarto que guarda as limas desse cesto.

Monday, October 25, 2004

De como o amor é simples

O amor é simples
basta querer sair
de dentro desse bunker frio
onde tu moras
costurando horas com
páginas de livros
e tirando o pó
dessas camisinhas sem uso
pegue uma maça pequena
dessas bem doces
e me dê de presente

Pois é. Definitivamente eu sou um pára raio de louco

Diálogo no Café do Porto
A: Com licença, desculpe incomodar.
B:...
A: Tu não vai lá na casa da mãe Ieda?
B: Não! ( espantadíssimo)
A: Ah tá, desculpa é que é muito parecido.
B: Sem problemas

A é uma mulher q me abordou ontem no Café do Porto para dizer isso.
B sou euzinho, o pára raio de loucos. Essa foi parecida com aquela do:

A: Tu não é filho da Jupira?
B: Não eu sou filho da Evinha!

Anyway, vamos em frente

Saturday, October 23, 2004

Essa é Waleska

Já há tempos eu penso que quase, ou nunca falo dos que aqui estão.
Então eu penso no que dizer e no que contar para que vocês saibam o que estam perdendo ao não estarem aqui.
Waleska é um bom par de mãos na cintura. Uma força imensa e um atrevimento galáctico. Mulher de inteligência e beleza raras.
Uma tormenta poderosa que açoita carinhosamente a vida da gente.
Ela às vezes cansa de ser uma menina super poderosa e almeja um ombro forte, mas que não dê ordens à ela.
Experimente dar uma ordem que tu verás para que lado sopra o vento.
Ela é filha da mãe do vento, da tempestade ( outra filha de Oya na minha vida... ai ai ).
Bela Waleska sempre foi, sempre será. Amiga, amarga, doce, racional e louca nos dias mais inesperados.
Um riso franco, uma mão estendida, um ombro.
Às vezes esse escorpiano dá uma patada mais forte e ela se torna uma donzela suave em uma torre de alabastro inatingível.
Waleska é muitas em uma só, um porto seguro. Só a idéia de que ela existe e está aqui basta para que os dias façam mais sentido.
Um senso de humor até em dias de TPM, que ela tem e forte!
Waleska e eu já atravessamos noites infernais juntos. Juntos temos trezentas mil e uma histórias para contar, algumas engraçadas, outras hilárias, outras de terror puro ( lembra aquela sessão de fotos lá no centro Wal?). Pois é. Tudo aconteceu conosco em todos os lugares.
Não existem muitas histórias felizes minhas das quais ela não faça parte.
Ah, e quando ela prende os cabelos, ela parece a Sade!
Não é um luxo ter uma amiga assim?
Eu
te
amo

Friday, October 22, 2004

Às vezes até a pessoa aqui fica sem resposta!'

Ele me disse:

"Só o cavanhaque ou precisa de algum molho, acompanhamento ?!?!?!
;-)"

E eu:
...

...

"Fique mais, que eu gostei de ter você..."
Sou insolente sim! Sempre fui, by the way!

Thursday, October 21, 2004

Faltava essa!

Sempre achei que faltava algo no meu blog, então lá vai:
(inspirado em outros blogs de amigos)
Das coisas que eu amo e outras tais.

Amo dias de sol e milk shake de chocolate do Joe's.
Amo quando eu me olho no espelho e o penacho está alto.
Me amo porque eu sou a soma de várias estradas trilhadas sempre de coração aberto e olhar atento.
Adoro pensar que vai ficar cada vez mais quente.
Amo andar na rua ouvindo música no meu cd player novo.
Adoro acordar de manhã e lembrar que amanhã tem aula na PUC.
Amo meus livros e as histórias que eles me contam.
Me alegra o coração pensar que Lemuel está indo bem no emprego, e morro de saudades do sotaque dele.
Morro de rir quando Érico me deixa mensagem na caixa postal se identificando ( como se eu não soubesse de quem é aquele sotaque).
Me enterneço ao pensar que Dengo tem o dono mais carinhoso do mundo: Guilherme Lamenha. Amo o jeito que Lamenha tem de tomar as mãos das pessoas nas dele e sorrir aquele sorriso maior que o mundo e te olhar no fundo do olho.
Adoro pensar que Gabby existe e que somos tão parecidos. E quero comer a cocada!
Morro de saudades de Leco e nossos papos e piadas privadas e de quando ele me pergunta: q foi gato?
Queria muito poder ver Gui cantando ( com ou sem roupa) o programa maravilhoso do recital dele. Dou risada lembrando de nós dois no cinema, às gargalhadas enquanto o resto do público tentava fazer uma resenha inteligente do filme.
Saudades de Samuel e Lucas e seus planos malévolos de me atar a um carrinho de montanha russa no Hopi Hari ( quem sabe nas minhas férias?).
Amo pensar que Meme está lá em BH com aquela boca linda e aquela risada que engole o mundo. Amo Meme quando ele acha Joni Micthell pra mim no Soulseek.
Amo o jeito que minha mãe dá bom dia para as pessoas.
Amo quando meu pai acorda assobiando que nem um canário belga.
Me impressiono com a beleza do que Orlando escreve.
Sinto falta de Rodrigo passando no hotel pra me pegar (sorry, I do!).
Ando com muita vontade de tomar cerveja com Ronaldo e fumar com ele, soprando a fumaça pra fora, os dois quase dependurados na janela da sala de estar de Guiu.
Saudades de Vitor Freire e seu sotaque molinho e seus doces e lindos olhos. Vontade de que as dicas de autores que dei a ele tenham sido úteis.
Amo lembrar das histórias de Balla e suas mil e uma peripécias.
Amo quando Ernesto deixa um comment no meu blog, me sinto importantíssimo.
Saudades de Carol, que matei um pouquinho hoje ao telefone, debaixo de uma pitangueira.
Vontade de chegar logo em BH e ver Ana Sampaio e andar por lá com ela. Falando em BH: Meme, a gente vai se conhecer meu tufão!
Se estou em BH, BABA!
Baba e sua escrita interessante, quase um íidiche moderno. Adoro rir com Babs no msn, e de meu espanto ao saber que ele tem tattooes.
Claro que eu não falei nem de tudo nem de todos, falta muito ainda!
Por enquanto é só pessoal!




Tuesday, October 19, 2004

E eu não vou estar lá!

Pois é! Segunda-feira, 12 e 30. Um recital. Nele, um grande parceiro, o Taurino que eu mais amo nessa vida sem ser sensualmente. Pois é meninos, certos fogos não se apagam, outros viram cometa.
Anyway, esse é um amigo que canta, e canta bem mesmo.
Minha indigência financeira me impede de dar um pulo via aérea para vê-lo cantando.

"Viens, cherchons un ombre propice
Jusqu'à l'heur oú de ce séjour
Les fleurs fermeront leur calice
Aux regards languissant du jour"

Esse é um trecho que ele vai estar cantando. Luxo na vida da gente.
Guilherme Bracco é um luxo, ele pode ser. Luxo necessário, indispensável nessa vida.
A ti meu Bocão, toda a felicidade e sucesso. Amor, luz, paz meu grande amigo.
Dizem que quem canta reza duas vezes.
Do seu
LUCA

Friday, October 15, 2004

Captain's log

From time to time I get like this: ... I remember that I also write well in English!
- Oh my! Don't be obnoxious Mr. Brown!
I am far and away. Like to be that way.
Maybe u miss me maybe not.
To be honest: I couldn't care less.
Where did I sign my name saying that I would be forever yours?
Don't recall having done such thing.
I belong to myself.
Never wished to be half of any orange or apple.
I like orange juice and apple pie. I hate fruit metaphors.
"An apple a day keeps the doctor away."
I always remember what Whitney Houston sings:
Don't forget that it was you who said goodbye!
Well, you didn't!
Sitting here listening to old songs. Watching a mouth that can devour me in a single bite thru the webcam.
A mouth that tells me things I like to read, a mouth I wish I could kiss right now.
I am far and away, been thinking a lot.
Food for thought. I bite, chew and eat my thoughts.
I am trying to find a way out of myself.
I never meant to hurt you, sorry If I did.
There is a north way I have to follow, been mixing up too many feelings lately.
What is what is not.
Could you have lost yourself in me?
Finders keepers my dear!
Kiss me with an attitude, tell me sweet words I never listened to.
Kiss me goodnight, tuck me in.
Fuck me in and out
Ok?


Monday, October 11, 2004

Um dia e outro dia

O parque estava quieto hoje. Tu não estavas lá acompanhando a cor do algodão doce com teus olhos infinitamente tristes.
A moça põe a xícara de expresso na mesa e sorri um bom dia meio sem jeito.
- Acúcar ou adoçante?
- Açucar.
Partilhamos aqui embaixo dessas árvores segredos feitos de açúcar. Estava começando a esfriar e os velhinhos do Bom Fim já voltavam para casa.
Cheguei em casa e fiz mais café, comi um pão doce e me sentei perto da janela para ouvir os pássaros voando em torno do pinheiro.
Existem sempre perguntas na minha cabeça: onde tu estás agora?
Para onde foram todos os sinais?
Onde anda aquele meu riso escandaloso de quando eu era mais fogo e menos razão?
A razão é o cubo de metal do filme do Woody Allen. Está lá mas não tem significado nenhum.
Muitas palavras não tem significado nenhum, outras tem significados tão ocultos que nem mesmo a mais fértil imaginação consegue reter.
Nós nos sentamos debaixo de duas árvores: eu de uma goiabeira e tu debaixo de uma jaboticabeira.A goiaba é mais cheirosa e me faz lembrar da minha infância, quando eu comprava uma goiaba e ficava cheirando por uma semana antes de comer.
Debaixo da minha janela tem uma goiabeira. Eu sinto o cheiro das goaiabas de noite, quando está quente e eu não consigo dormir, o que acontece raramente.
O parque estava frio hoje. O sol de Outubro não aquecia os bancos nem os ciclistas.
Acontece de eu passear por lá várias vezes na semana.
Sento no banco de novo e tento achar o sabiá que canta ali perto.
E de repente sinto uma sensação curiosa de que as coisas ainda são belas e tu não estás aqui!
E eu, bom, eu estou mais belo do que nunca, melhor do que nunca.
Eu sou o menino amado das mechas vermelhas, o Luca exagerado, raivoso, ciumento, engraçado, tímido, safado, bom pros amigos, insuperavelmente antipatico com gente que eu não gosto.
Vou voltar ao parque e comer um pouco de algodão doce.
Só hoje eu queria te dar uma boa bofetada, daquelas de filme de Joan Crawford. E te dizer: tu me perdeu seu babaquinha!
Que vengan los toros, e los toreiros ( se tu acha q o espanhol está errado tu pode se foder também!)
Beijo

Friday, October 08, 2004

Para Ana

3 letras e um universo(para Ana em seu aniversário, de um Escorpião que quer estar sempre junto)
Leio na tela 3 letras
Simples
Exatas
Macias
Sua dona sorri de volta para mim
Adivinho seu riso
Suas curvas
E em qual lado da lua
Ela passeia nas noites de céu claro
Fina, dengosa, cheia de surpresas é a voz
O sorriso é um caleidoscópio
De frutas e brotos
Longe ela anda
Está aqui
E acolá
Pensa muito
Sente tudo
Encanta
Com idas e vindas
Tem estrelas e velas
Panos e trapos
Que ela carrega com seu andar
Traz notícias e amores
Ela viu, ela vê
Ela sabe
Mas não me diz
São 3 letras
E um universo de mulher
E menina
Uma concha
Um sol azul
Uma chama quente que arde
Sempre há mais dela por aí
Por aqui
São 3 letras
3 caminhos que levam a mais caminhos
ela leva o coração na boca
mas ainda não sabe que sabor ele tem
ela não tem bom gosto
ela tem gosto bom
são 3 letras e mil carinhos
e mil risos
e sempre há mais
porque são 3 letras
e um universo

UM

Só um
Dia
Noite
Beijo
Olha em volta, cruza a rua
Passos ecoando na rua
Sons distintos e raios de sol
Uma sinfonia de pequenas vidas
Toques de memória
Pequenas separações
Fusos indistintos
Um
Um verbo exato
Para te definir
Lamber os teus olhos
Depositar
Um fruto doce
Na tua boca
Mastigar o teu medo antes
Que ele te engula
Tocar o teu corpo
Naquela hora cinza da madrugada
Sentir os teus ais
Apertar forte o teus gomos
E extrair o teu sumo
Vil, cruel
Que me prende, me chama de volta
Te consumir e me perder de novo e sempre
Não achar caminho de volta
Não ter saída em ti
Mapear as tuas sensações
Escolher a tua rota
Esperar o dia amanhecer
No horizonte do teu corpo
Na lenta manhã...
Escalando as horas, buscando
Um sol
Mais calor
Um sonho
De cores poéticas
Um quadro
De moldura
Antiga
Um
Menino
Preciso
Um
Ser seu
Urgente
Meu
Eu seu


Alice e o gato

Ela ainda se lembra. Nítido, silencioso, acre e escuro contra o muro alvo ao lado da casa.
- Vem, vamos logo...
Palavras ditas com urgência, a mesma urgência de mãos ágeis e quentes desvendando as coxas, alisando a pele macia e medrosa. E no canto, no ângulo onde o muro encontra a parede da casa ao lado, a vizinha tão só, intrometida e impertinente.
- Alice! Tão bonita e tão triste.
Triste, que sabe ela, essa mulher seca e miúda, como um pergaminho velho. Pergaminhos, diz a professora, revelam segredos escondidos. A luz revela o gato no canto, olhando para ela, a menina triste, a rapa de tacho, o susto de uma gravidez tardia e, secretamente, não desejada.
O gato olha de volta e sim, adivinha o instante em que todas as possibilidades se resumem a um sim ou não.
- Não, não vou – diz Alice, encerrando mais uma porta em sua longa sucessão de portas fechadas e fotos amareladas onde pessoas já mortas a carregam no colo.
E ele se foi, ela ouve os passos na calçada, o som se perde na noite escura do seu medo. Alice não é mais uma menina, é uma mulher. A vergonha dói uma vez só, diz a tia que mora ao lado da igreja.
Alice pensa, enquanto corta o tecido da camisa que vai dar de presente ao sobrinho que a visita na casa antiga no final do verão, quando o calor é insuportável.
Ela é uma mulher de sobrinhos, os filhos dos outros não são seus filhos. Suas irmãs a olham com pena. Pobre da Alice, tão só, devia arranjar alguém para tomar conta dela.
Como se toma conta de alguém que nunca quis ninguém além do gato preto, muitos, muitos gatos pretos.
- Coisa de bruxa, diz a avó. Essa menina é estranha.
O gato é testemunha macia e arisca de sua solidão, de suas noites áridas de solteirona. Ele ouve os gemidos abafados pela porta, os ais de seu gozo insuspeito.
Houve um dia, mais um homem, nem tão viril como o que chamou Alice para a vida, nem tão alegre, quase uma sombra. Homem sem pecado. Homem perfeito para emoldurar seus olhos profundos e pensativos.
Ela pensa e o gato olha, ele sabe, ele caminha em sua direção e enrosca-se em suas pernas, sua dona, ou o contrário?
Parceiros ou competidores? Quem entregará os pontos primeiro?
Uma corrida contra um tempo que já foi, não voltará nunca mais, não importa quantas revistas antigas ela leia na sala escura.
A chuva chega finalmente, batendo na vidraça com a suavidade de um amante jogando pedrinhas na varanda onde a donzela febril vem ser mais uma Julieta à procura de seu Romeu.
A irmã fez Julieta numa peça da escola. Seu vestido era tão lindo, tão cheio de fitas e colorido.
O gato passeia no canteiro, por entre as flores, de vez em quando volta a cabeça e mira de volta, ele sabe que ela o espreita.
Chega a ter ódio às vezes, nojo, gatos fedem, são nojentos, pensa ela em um de seus instantes em que parece sentir a chama de uma personalidade aflorando por entre os poros que ela limpa com o mais fino creme de beleza, diz o farmacêutico.
Gatos adivinham pensamentos. O que ela pensa faz sentido agora?
Sente a maciez do tecido contra os dedos. Longos dedos, finos e macios, dedos de quem nunca trabalhou.
Os dois já travam um diálogo de silêncio que dura muito tempo. Quanto tempo vivem os gatos?
Ela não sabe mais, são todos tão parecidos.
Os felinos domésticos caçam ratos. São animais úteis e limpos.
Mas esse gato não, não é útil e nem limpo e nem gato e nem Alice é uma mulher.
Ela é um pergaminho, sem segredo algum a ser revelado, ela é um vácuo sem nome, sem vontade, sem razão de ser como é, apenas é...
O felino não caçou os ratos, os ratos roeram a roupa do rei de Roma, Alice com raiva do rato não foi.
Ficou.
Alimentou o algoz quieto das tardes frias e escuras nessa casa onde não vem ninguém, ela nem quer, dá mais trabalho e se é para vir por caridade que não venham.
Disse não, não foi, ficou. Pariu sua indiferença às possibilidades de sua vida, guardou-se para o nada, nada veio pensa ela.
Rainha do seu próprio castelo. Princesa virgem da casa amarela.
Flor seca no álbum de família. Sobrevivente.
Ela vai matar esse gato. Ainda hoje.



O chamado e as plantas na tarde curta

Um chamado
Intenso e urgente
Vem, vem, vem...
Voz sumida
Interrogações suaves
exclamações perdidas na tarde
Mais curta porque tu foi embora
Tu não estás aqui e a noite chega mais
Cedo
Em meus sentidos
Distante canto vindo de onde?
De uma terra que canta e faz chamego bom
Sussurros, delírios
Esperança espelhada no prisma
De mil cores
Origami cuidadoso
Sabedoria de dias mais tranquilos
Caleidoscópio louco
Cruz cálida
Crosta crua
Coração cristalizado pelos dias
Crisálida sem pupa
Dias nus de véus
Pacotes de presentes
Fitas, flores e cheiros
Chapéu de feltro na cabeça
Venta o vento
Vai se o chapéu
Vem o chamado urgente
Pousado no girassol
Vem, vem, vem...
Vamos? pede o menino tigre
As plantas esperam ser carregadas
Na tarde curta
Plantas não esperam, exigem
Querem ser carregadas
Sementes são carregadas
Volto aqui
As plantas repousam
No chão da sala
Já foi
Não me despedi
Não fui junto
O coração foi,
Fiquei oco,
Mudo
Cuidadoso
Com cantos e quinas
Gelado e quieto
Os olhos não
Esses sempre serão chamas
Que foram acesas por ti
Quando aqui voltares
Não direi adeus
Direi olá
E pedirei
Um pouco do meu
Coração
De volta

Olha aqui: esse novo filho foi motivado pela sua ida e por não ter me despedido

A sombra na janela

Queria poder entender o pacto cinza de silêncio que fiz há muito tempo já. Tantos copos na pia, restos de frutas esquecidas em taças longas. Longos dedos, finas ironias de bocas rasgadas, dor que emudece e ilumina novos caminhos, mudos os criados na casa solitária do meu arrependimento.
Somos assim, inquietos e imóveis, represados em medo e soluções pacíficas de meias verdades. Agonia lenta de um dia de verão acabando por trás daquele morro.
Siouxsie Sioux cantando Belladona no cd player. Tímidas tentativas de viver uma vida que não é minha, mas em suma o sumo dos minutos escoando pelos poros revela coisas novas, ecos vindos de longe. Ecos nem sempre vem de longe, mas esse vem...
Um poro é uma coisa muito pequena; muitas portas são pequenas e estreitas.
Mas nada é mais assombroso para o menino que mora aqui dentro das costelas, espremido entre outros órgãos, por vezes estúpidos e inúteis, coração bobo e vacilante, do que a sombra na janela.
Ele olha a sombra na janela, pensa estar errado, uma sombra, não o seu reflexo distorcido pelas gotas da chuva.
O que seria das gotas de chuva se não existissem as janelas de vidro?
Memórias de fatos e noites escrotas vividas em tempos sujos e ásperos. Carícias frias de tempos já há muito esquecidos, memória de pele e arrepio de frio.
Cala cala cala cala essa besta, fera, tormenta, raiva; cega a mulher no pátio da minha elipse cruel, limite claro no chão dos meus caminhos. A mulher sentada no pátio, descasca a maçã, outras maçãs no cesto esperam ser descascadas. A mulher é cega, como o homem no conto de Clarice, suas mãos ágeis percebem cada saliência na casca vermelha, ela descasca e corta cada maçã em quatro, e as despeja em um balde azul. Às vezes ela se levanta com dificuldade e vem até a janela e me olha. Seu nome não é nome, e sua face é distorcida e muda.
Vem, quebra esse vidro, abre essa janela, espanta essa sombra daí. Me puxa pra fora desse oco seco e mal cheiroso, me mostra a estrada onde as margaridas nascem em meio ao pó que levanta. Vem o cavalo a galope, seu cavalheiro me fita com seus olhos profundos, passa e vai embora, quer uma margarida?
A sombra na janela me enlouquece, diz o menino, ele pensa em coisas doces, de tempos mais antigos tenta espantar em vão essa moldura de frio, esse nanquim esboçado em uma crua tarde.
Muitos caminhos levam a mais caminhos, onde estão as pedras ao longo do caminho, para que se possa sentar e repousar um pouco? Olhar para as árvores e aspirar o perfume intenso das escolhas?
Água mineral com ou sem gás? Pergunta a moça sorridente. Sem gás os balões coloridos dessa manhã de domingo não vão a lugar nenhum.
Aquece as cordas vocais, exercita a respiração e grita por ajuda. No vasto deserto das falências cotidianas senta-se a velha cega, a sombra muda. Eu caminho até ela, afasto os galhos das árvores secas com as mãos de dedos finos e longos, mil pianos esperam ser tocados, sinfonias inteiras de compositores mortos.
Ela me estende a mão e me convida a sentar no chão gretado, veios de rios há muito esquecidos, leitos de desejo onde muitas vezes me deitei, orgasmo cúmplice de sussurros agudos de entrega desmedida.
Você não cabe mais em si mesmo, diz ela, sábia e indiferente aos meus pedidos de trégua.
Devo renascer mais forte, mais inteiro, mas cru e mais sábio de loucuras tramadas por novas rotas, rumo ao norte do meu corpo, ao centro exato e vertical do meu eixo.
Você deve morrer essas mortes doloridas, chorar essas lágrimas trancadas em caixas de veludo antigo, expelir essas larvas, diz a velha.
O sol queima os meus cabelos, o vento resseca os meus lábios, e, lentamente eu sufoco misérias mortas nas unhas. Pouco a pouco eu me entrego à inevitável escolha de te deixar para trás, para sempre e mais muito mais.
Eu choro e meus sons ecoam na rua. Calma, diz o grande mensageiro de uma estrela que nasce ao lado da lua.
Eu escolhi renascer, mais uma vez, e, dessa vez sob signos, ícones, totalidades diferentes.
Você, tigre pediu calma e me beijou, e me lambeu, e me protegeu.
À sua sombra calma eu cresço e espero o dia em que voltarei a andar, e nesse dia nossas sombras irão se confundir na areia da praia, esse dia logo chega, e vou te ter de novo ao meu lado, e tu vai saber que tudo veio ao nosso encontro, e que a velha cega não assombra na sombra da janela.
Agora eu sei o nome dela, e grito aos quatro ventos, porque ela não existe mais, nem ele pode me atingir aqui no alto das nossas estrelas.
O nome dela eu nunca vou te dizer, nem preciso, ele já foi, seguiu seu caminho para longe de mim, e isso não importa mais.
Agora eu vou sair para a noite que não é mais escura, porque tu me ajudou a botar elas de volta e nós vamos conta-las juntos, mais uma vez.


ps: Este é um dos meus textos antigos q faltava postar!

Thursday, October 07, 2004

Eu e meu cd player novo!

Hoje foi o dia em que voltei a me amar de novo. Depois de um fim de semana de desamor e consequências.
Ele é prateado e parece uma moedinha. Nele ouço músicas que pessoas que me amam gravaram para mim. Nele logo logo vai tocar Vanessa da Mata cantando: "Case-se comigo". Não, isso não é mais um pedido; aprendi que devemos ser pedidos em amor e não em casamento.
Whatever...
O importante é que voltei a andar na rua ouvindo música. Quem me conhece sabe o que significaram esses três meses sem um cd player à mão ( a crase está bem colocada aqui Lemu? ).
Voltei a andar na rua com o queixo erguido e o coração aos pulos, porque é PRIMAVERA de novo e eu sou um filho dessa estação, é nela que deposito os meus votos de amor e felicidade para eu para tu para o rabo do tatu.
Nesse exato instante, em outra janela do computador jaz meu trabalho de pragmática esquecido por instantes, para que eu possa contar das boas novas, da música de como estou de novo caminhando por aí, singrando os ares de Outubro com meu queixo barbudo.
Sim, eu ando de queixo erguido meus amigos, sou um grande homem que anda assim. Mas cuido para não pisar em cocô de cachorro.
Sou o Luca, o exagerado, o inexato. Sou eu, lembra?
Sou eu que me sentei à mesa do bar e tomei vodka bagaceira com limão.
E queria fazer tanto isso de novo, aí com vocês no Senhor dos Anéis, esse homem que me humilhou completamente com seus zilhões de anéis de prata e lua. E eu, que me achava extremamente complexo com meus cinco anéis me calei de noite.
Tenho saudades, muitas saudades.
Vocês todos aí! Tem saudades também?
Venham me ver. Prometo que deixo o meu cd player novo de lado e vou mostrar porque esse porto é alegre!



Sunday, October 03, 2004


Isso é para dar uma vaga idéia do que esse homem é! Posted by Hello

Ele é o Meme

Posso pensar em vários adjetivos para descrevê-lo. Posso usar o primeiro que pensei: bonito. Marcelo, ou Meme, como só eu o chamo. Como surgiu esse apelido, não sei. Como surgiu a admiração, a paixão carnuda e molhada que eu tenho por esse cara é outra história que é só nossa.
Meme é belo, muito embora não se ache assim em boa parte do tempo.
Articulado, inteligente, preciso no uso da palavra. Seus sentimentos são frutas exóticas de um país distante, preciosos sentimentos e feliz de quem for objeto da afeição desse tufão mineiro, desse temperamento incontido, dessa fome de vida.
Eu, estupidamente, deletei uma simples homenagem que fiz à ele tempos atrás, e ele, em seu coração canceriano ferido pensa que o amor se foi.
Não Meme, tu já ocupa um largo espaço de lindas janelas com vista para o mar vermelho de dentro do meu coração. Nessas janelas tem um parapeito meu amor para tu colocares os teus sorrisos lindos que já me acordaram de manhãs cinzentas.
Meme é inteiro, é um gosto bom que adivinho do lado de cá da tela, ele é uma boca que não tem tamanho, um menino por vezes assustado com as impuras paisagens de um mundo cada vez mais sem sentido.
Quando penso que as coisas não tem mais jeito eu penso nele lá na cidade que está seca, o menino de rosto rosado das jabuticabas colhidas no pé.
Meme ri e o mundo das coisas lindas e invisíveis ri junto com ele.
Ele é muito tudo demais um exagero de coisa boa. Ele é fiel ao amor, à paixão ele é um homem que espera no porto mil anos depois seu amor voltar.


Meus dois ursos favoritos Posted by Hello

Professor Wagner

Baba, ou Babs, ou Wagner.
Lindo estatístico lá longe em BH, Baba abraça o mundo e ri sua canção de menino feliz. Baba é um sotaque lindo, um otimismo impenetrável, uma amizade espantosa.
Um homem inteligente sabe? Ele entende de números que dizem verdades estatísticas que não percebemos. Babs é um bom par de braços abertos prontos pra um abraço apertado e feliz.
Babs fica embaraçado com certas barbaridades que esse escorpiano que vos escreve fala por vezes. Ele me ensina coisas que nem ele sabe, ele ensina o coração a ter calma e sorrir.
Babs é um amado, um urso querido e tímido daqueles difíceis de se captar nos momentos de intimidade, uma amizade rara que eu tenho um profundo orgulho de ter e cultivar!
Babs tu és um cara too much baby!

SECRETA